sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

o sonho

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Nem todos os dias estamos com disposição para falarmos dos nossos sentimentos mais fundos e para revelarmos o nosso íntimo. Mas como não temo os juízos alheios, sou um homem sem medo, e isto é para mim um divertimento, eis um instante - verdadeiro - da minha vida. Este texto foi escrito em 28 OUT 2002. Reli-o e melhorei-o um pouco, sem trair o original.


O SONHO

Hoje, pelo telefone, contei-lhe a estranha coincidência de me ter telefonado precisamente no dia em que acordei de um sonho em que sonhei com ela.

Contei-lhe apenas o 1º capítulo do sonho.

Contar a história toda é estragar a surpresa de quem vai ver o 'filme'.


Tínhamos combinado um encontro.

Talvez pelo telefone, fiquei de me encontrar com ela na empresa onde está empregada.

Uma empresa de contabilidade, especializada em 'escrita feminina'.

Um tipo de firma que faz escritas apenas para empresas-cliente geridas por mulheres.

Chego cedo.

Ela só sairá às 6.

Talvez me tenham conduzido, talvez tenha chegado lá sozinho.

De súbito vejo-me no gabinete dela.

Uma sala ampla e arejada, de dominante rosa nas paredes.

Há uma espécie de brilho, de glow, em toda a cena.

Entro e paro ao lado de um sofá blue marine à minha esquerda.

Na outra extremidade, obliquamente está a secretária.

E ela.

Sobre a secretária a parafrenália habitual: computador, telefone, papéis, canetas.

Ela está sentada e levanta-se de imediato assim que me vê.


Sorri e diz-me "Sent'aí um bocadinho".

Sento-me no sofá blue marine, cruzo as pernas e fico a observá-la.

Está linda como sempre!

Consigo vê-la da cintura para cima.

Veste uma camisola rosa muito justa a revelar o relevo de um magnífico e generoso par de mamas.

Duas colinas perfeitamente convexas maravilhosamente colocadas ao lado uma da outra, absolutamente de um rosa puro.

Sinto-me hipnotizado por aquela visão maravilhosa que me transmite a mais soberba sensação de calor acolhedor e de doçura.

Sinto-me perante a mais fascinante visão do Sublime.

Compreendo Kant.


De vez em quando ela olha para mim e sorri.

Sorri com todo o rosto.

Sorri com a boca, com os olhos, com o cabelo... E fala.

Não recordo o quê.

Mas trocamos algumas frases.

Apenas consigo recordar que a sua voz soa como o mar.

Aquele mar que marulha nos nossos ouvidos com maciez quando nos deitamos na praia de olhos fechados sob o sol.

Aquele baloiço aquoso que nos embala enquanto mergulhamos no entorpecimento voluntário.


De súbito, a cena muda (talvez o capítulo 2).

Estou em pé e por mim passa um pequeno grupo de pessoas conduzido por uma senhora que me parece ser a dona da empresa.

Pelos diálogos, é um grupo de estrangeiros, supostamente do mesmo ramo, em visita à empresa.

Recordo que param todos a observar, eu também observo, um placard de vinyl com um tipo qualquer de informações sobre a empresa.

Talvez um organigrama.

Param no corredor a olhar o placard, ouvem as explicações da patroa, fazem alguns comentários (estranhamente no grupo há algumas crianças, parecem um grupo de turistas americanos) e seguem através de uma porta lateral com vidro.


A cena muda novamente e encontro-me no capítulo 3!

Estou de novo no gabinete dela, em pé.

Ela levanta-se e caminha na minha direcção.

Pára muito perto de mim.

Sempre a sorrir.

Trocamos algumas palavras.

Quando dou por mim estamos abraçados.

Os nossos corpos colados um ao outro.

Os nossos rostos ao encontro um do outro.

Os nossos lábios juntam-se num beijo doce e carnudo.

Beijo-a com alguma sofreguidão mas ao mesmo tempo com a calma de quem sabe que não vale a pena correr.

Abraçamo-nos e beijamo-nos com a meiguice e a ternura de dois amantes que se adoram e sentem que vale a pena não desperdiçar aquele momento pois momentos destes são únicos e irrepetíveis.

Sinto entre nós a promessa de mais qualquer coisa.

De algo que ambos desejamos e que não queremos adiar mais.

É neste instante que 'a fita parte' e o 'filme é interrompido'...


Acordo e saio do 'cinema'.


Contei-lhe (só o 1º capítulo) e ela achou montes de graça e riu.

Ouvia-a rir com prazer do outro lado do telefone.

Gosto de lhe dar prazer.

Afinal sempre sirvo para qualquer coisa!


Oeiras, Janeiro 2008
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8 comentários:

Sara MM disse...

eh!eh! pois eu queria era saber como ela iria rir (?) qd ouvisse o 3º capítulo! eh!eh!


é giro ter sonhos assim. faz-nos bem à "ialma".

bjss

Unknown disse...

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Olá Sara,

Espero que esteja tudo bem contigo.

Obrigado por vires aqui e comentares.

Quanto ao 3.º capítulo...
Um dia destes conto-lhe e depois venho aqui dizer-te como ela se riu ( ! )... :)

bjs

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Isabel Magalhães disse...

J.;

Também fico à espera... de mais. :)))


Sonhos... os meus andam falhos de imaginação. Só coisas sem nexo, de difícil interpretação.

Tempos houve em que sonhava que a galeria, - uma das que expõe o meu trabalho - tinha vendido telas. Telefonava e era verdade...!

bj
I.

o scriptum - O exaustor e o ventilador estão 'homologados'? :)))

Unknown disse...

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Olá querida Isabel,

Não duvido que mais haverá. :)

"... Só coisas sem nexo..."

Ora aí está ! Esses é que são os mais divertidos e estimulantes.
Também tenho muitos assim, sem pés nem cabeça.
Lamento nem sempre conseguir 'apontá-los', mas sabes como é.
A memória deles desaparece num ápice e se não escrevemos de imediato... já eram. Meia hora depois já quase nada lembramos.

Sempre que posso tento, pelo menos, apontar os aspectos principais. Depois ficciono.


"... estão 'homologados'?"

Estão. 'Amolgados' por Deus... Ahahah...

bjs

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Isabel Magalhães disse...

Deus?!

então não é o 'eco-cidadão' que 'homolga'? ihihih



bj

I.

Unknown disse...

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... 'homolga', 'homolga'... as nossas monas ! Raios o partam !!

bjs

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Anónimo disse...

Sonho ou desejo de uma realidade sempre adiada? Dizem que nos sonhos se esconde o que na alma vai...ou não! Eu prefiro tb sonhos destes, sonhos que nos fazem sonhar sobretudo acordados...
Gostei muito.

Unknown disse...

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Olá Susi,

... Sonho ou desejo...

Andamos a estudar psicologia... Eheh

Talvez seja isso - desejo adiado (pelo menos neste caso particular).

Se os sonhos significam alguma coisa... não sei. Sou muito céptico em relação à interpretação (mística) dos sonhos. Acho que eles têm mais a ver com a realidade vivida do que pensamos. Como um espelho.

Um pouco ao jeito do "o sonho comanda a vida". Mas talvez o inverso: a vida determina o sonho.

E sim, também eu adoro sonhar acordado, com coisas boas.

post scriptum: Só por curiosidade, contam-se pelos dedos duma mão os meus pesadelos. Muito raramente os tenho. Esta ausência deve significar alguma coisa.

bjs

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