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Disse Albert Einstein (1879-1955) que "Deus não joga aos dados"... Não o creio. Bem pelo contrário, estou convicto que é dos humores divinos e do acaso destes que se gera o tiquetaque que move os ponteiros do relógio. É o que este instante relata, numa recriação dum original de 13 de Outubro de 2002.
OS DEUSES JOGAM AOS DADOS
Um deus ingénuo e infantil já incomoda. Agora veja-se o que acontece quando se juntam quatro deuses ingénuos e brincalhões, a quem foi dado o poder de criar à sua imagem e semelhança, ou não fossem deuses!
Raios! Quão frágil é a nossa existência, quando tudo, afinal, depende dos humores divinos!
Tudo começa no nada absoluto, no vazio infinito e eterno. Naquele nada em que nem mesmo o nada existe. Os quatro deuses, o deus do ar, o deus da água, o deus da terra e o deus do fogo encontraram-se, por acaso, e sentaram-se junto uns dos outros, enfastiados e enxofrados, sem saberem o que fazer. Os seus olhares derivavam de uns para outros, enquanto a eternidade passava com a lentidão enfadonha que só a eternidade pode ter. Foi então que o deus do ar propôs aos outros um jogo. Um jogo divino, está claro, e assim foi...
Era o vazio infinito. Primeiro surgiu o ar. E os deuses viram que o ar era bom. E o ar se fez água. E os deuses viram que a água era boa. E a água se fez terra. E os deuses viram que a terra era boa. E a terra se fez fogo. E viram os deuses que o fogo era bom. E o fogo se fez nada. E os deuses regozijaram. E os deuses viram que o nada era bom. E os deuses riram. E dançaram. E o nada era o nada. E os deuses eram bons. E os deuses fizeram o ar, fizeram a água, fizeram a terra e fizeram o fogo, a partir do nada. E os deuses viram que era bom. E colocaram a sua obra numa singularidade do nada. E o nada se fez tudo. E o tudo se fez todo. E os deuses viram que o todo era bom. E chamaram ao todo cosmos e ao nada chamaram caos. E os deuses viram que o cosmos era bom e os deuses viram que o caos era bom. E os deuses viram que eram bons. E riram muito. Gargalharam. E fundiram o caos e o cosmos. E o ser, foi. E viram os deuses que era divertido, o ser. E riram de novo. E numa rambóia alucinante confundiram a água com o ar, a terra com o fogo, o fogo com a água e esta com a terra, e o ar confundiu-se com o fogo e o caos e o cosmos fundiram-se numa confusão indescritível... E os deuses riram. E viram que era bom. Rebolaram-se no chão como doidos.
E naquela confusão surgiu o homem. E os deuses riram e gargalharam por muito tempo, pois nunca tinham criado nada tão ridículo, insignificante e divertido como o homem nu! E o próprio homem viu os deuses. E viu que os deuses eram bons e divertidos. E o homem riu. Até lhe doer a barriga. E o homem gargalhou. Até às lágrimas.
Só parou de rir quando percebeu que não era perfeito como os deuses. Sofria de hemorróidas!
Oeiras, 17 Abril 2008
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4 comentários:
Só tu mesmo para me pores a rir a esta hora da noite.
Soberbo! ;)))
Bj
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Olá rosa brava,
Bem aparecida ! :)
E o que eu me ri ao escrever ?! AH AH AH...
Obrigado pela visita.
Folgo em ver que estás melhor de saúde ( ? ).
bjs,
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Este conto esteve quase a atingir um ponto de grande reflexão filosófica. Aquelas hemorróidas é que saem do contexto. Em vez da piada para rir esperava uma conclusão dramática ou irónica para meditar. Bem bom, ainda assim!
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Olá perplexo,
Esta estória é apenas uma brincadeira que não ambiciona mais nada.
A intenção é humorística.
A reflexão, cada um faz com os estímulos que quiser e só se quiser.
Cada vez me sinto menos motivado para 'tentar' que os outros pensem.
A maioria das pessoas apenas vê pela rama.
Acho mais útil a provocação pura e dura e "seja o que Deus quiser !" :)
Grato pela visita.
Abraço,
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