sexta-feira, 6 de junho de 2008

o barracão abandonado

.
Um instante cujo original está datado de 13 de Outubro de 2002, um daqueles textos escritos pelo puro gozo de escrever, sem esquecer algumas referências pessoais...


O BARRACÃO ABANDONADO

Era uma fria manhã de inverno português. O nevoeiro cerrado espalhava-se por todo o lado como uma mortalha branca e gelada dificultando a visão. O duro vento norte, frio e cortante, soprava com força abanando as ramagens das árvores e fazendo gemer algumas mais grossas e alguns troncos. Aquele campo estava abandonado há muito tempo, muito, muito tempo, o que era perceptível no espantalho caído, no muro meio destruído e nas plantas daninhas que cresciam por todo o lado, tomando conta do campo, dos muros, dos troncos. O ar de abandono fazia daquele campo, outrora vivo e belo uma coisa fria, desolada, triste e lúgubre.

Como desolado e sinistro era o barracão de madeira que se sentia numa das margens do campo. Fora abandonado juntamente com a terra quando os homens abandonaram para sempre a agricultura natural no período da Grande Crise, deixando os campos e partindo para as cidades de aço, vidro e plástico. As ervas trepavam loucas e livres pelas suas paredes apodrecidas de muitos invernos. A porta estava fechada com uma fechadura de ferro enferrujada, carcomida pelas intempéries, da qual de vez em quando se soltavam pedaços e lascas de óxido de ferro. Ninguém entrava nele há muito tempo. Nem entraria, pois não havia quem tivesse interesse em fazê-lo ou alguém para o fazer. Por isso não existia pessoa alguma que soubesse o que lá dentro se guardava.

Várias caixas de madeira cuidadosamente empilhadas umas sobre as outras enchiam quase metade do barracão. As etiquetas que identificavam as caixas tinham-se descolado havia muitos anos devido à humidade e estavam sujas, rotas e espalhadas pelo chão. Se alguém abrisse uma daquelas caixas teria a extraordinária surpresa de encontrar dentro dela velhas garrafas escuras de vidro, de secção quadrada, das que se usavam no século vinte. E se tirasse uma dessas garrafas para fora teria a surpresa de ler no rótulo o nome Jack Daniel's...

Um nome que só teria significado para algum expert, que reconheceria aquele que era naquele tempo, sem dúvida, o melhor whiskey do Tenessee.

Oeiras, 06 Junho 2008
.

2 comentários:

Isabel Magalhães disse...

Bora lá buscar umas quantas?

:D

[]

I.

Unknown disse...

.

Se eu soubesse onde fica o local, já não estava lá nenhuma... :)

bj

.